Regulador prevê ingresso do Brasil em sistema de pagamentos global a partir de 2029
A internacionalização do Pix não será feita tão breve. As projeções do Banco Central do Brasil (BC) indicam que os primeiros passos da interconexão do seu sistema de pagamento instantâneo com similares em outros países só iniciarão a partir de 2029.
“Em algum momento vamos interligar o Pix a sistemas de pagamentos de outros países, mas primeiro vamos preencher algumas lacunas dentro do nosso mercado de pagamentos interno. É um projeto que não inicia antes de 2029”, afirmou Breno Lobo, chefe-adjunto do departamento de competição e estrutura do mercado financeiro do Banco Central, durante o Febraban Tech deste ano de 2025.
Por conta da limitação de recursos, a prioridade dentro do Banco Central (BC) é desenvolver funcionalidades do Pix para atacar velhos problemas do sistema financeiro brasileiro. O Pix Automático, que está em vigor desde 16 de junho, é um exemplo, segundo Lobo.
“O Pix Automático veio resolver nosso problema de arranjo de pagamento de débito direto interbancário”, diz Lobo.
Outra questão é o sistema de parcelamento de compras. O Pix Parcelado será uma alternativa ao parcelamento sem juros no cartão. O BC também pretende desenvolver funcionalidades do seu sistema de pagamentos instantâneos para impulsionar o crédito.
“Questões de colaterização de crédito com recebível futuro de Pix será um caminho para melhorar a oferta de crédito a micros e pequenas empresas. Então ainda temos muitos problemas internos para resolver antes de priorizarmos a interligação com sistemas de pagamentos em outros países”, afirma Lobo.
Projeto Nexus: conversas globais avançam
Embora o BC ainda esteja concentrando esforços em resolver pendências internas em relação a meios de pagamentos instantâneos, o regulador tem mantido uma agenda de conversas com outros países sobre interconexão de sistemas semelhantes ao Pix, diz Lobo. O BC tem acompanhado os avanços do Projeto Nexus, uma iniciativa do hub de inovação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), criada há cerca de quatro anos.
O mais novo desdobramento do Nexus é a Nexus Global Payments. A iniciativa foi constituída em Cingapura em março deste ano. Trata-se do primeiro projeto do BIS Innnovation hub na área de pagamentos que avança para implementar transações em tempo real.
De acordo com o BIS, o hub multilateral pode conectar cerca de 1,7 bilhão de pessoas globalmente, mesmo no primeiro estágio, em que já há a adesão da Autoridade Monetária de Singapura, do Banco Negara Malaysia, do Banco Central das Filipinas, do Banco da Tailândia e do Banco de Reserva da Índia (RBI). A decisão dos bancos centrais em sediar a Nexus Global Payments em Cingapura buscou facilitar a operacionalização e o gerenciamento da iniciativa multilateral de pagamentos transfronteiriços instantâneos.
Lobo diz que, no Brasil, o BC enxerga com “bons olhos” o desenvolvimento do Nexus, que prevê a interconexão de diversos sistemas de pagamentos internacionais. De acordo com Lobo, o Brasil deve se conectar ao Nexus Global Payments, que é o primeiro projeto do BIS Innnovation hub a virar realidade.
“Vamos nos conectar em algum momento a esse hub. Isso vai facilitar muito as remessas internacionais, remessas de empresas e compras feitas por turistas brasileiros em outros países. Será possível usar o app do Brasil para ler um QR Code local e fazer a transação instantânea, ou seja, os comerciantes de outros países poderão receber instantaneamente aqueles recursos”, detalha.
Facilidade de conexão para o Pix internacional
Projetado para padronizar a conexão de diversos sistemas de pagamentos instantâneos desenvolvidos em países diferentes, o hub multilateral Nexus promete agilizar remessas internacionais adotando conceitos inovadores. Em vez de uma operadora de pagamento instantâneo criar um sistema específico para se conectar ao ambiente de pagamento de um determinado país, o Nexus parte de uma única conexão.
A partir do momento em que o sistema de pagamento instantâneo está conectado ao Nexus, essa infraestrutura passa a ter acesso a todos os demais sistemas de países também interligados ao hub. Uma única conexão permite que o sistema de pagamentos instantâneo de um país alcance todos os sistemas conectados na rede.
Mais de 70 sistemas de pagamento instantâneo estão em operação globalmente, porém, ainda são estruturas que funcionam dentro de determinadas fronteiras. A meta do BIS, ao fomentar o Nexus, é estimular a interconexão, barateando o acesso a essas estruturas e facilitando a interconexão dos diversos sistemas de pagamento instantâneos em uso no mundo.





