Aumento de consentimentos ativos potencializa personalização e entendimento do mercado; painel no Fintouch debateu o tema
O compartilhamento de informações por meio de Open Finance tem, entre seus frutos, a personalização dos serviços financeiros – e isso já vem acontecendo, conforme apontou Luis Moraes, head de banking da Celcoin, ao moderar painel no Fintouch 2025, realizado em São Paulo. “Empresas de infraestrutura já estão levando a personalização para os clientes finais”, assinalou.
O movimento ganhou força com a ampliação de consentimentos nos últimos dois anos, passando de 38 milhões em 2023 para 104 milhões de consentimentos ativos em agosto de 2025, com forte presença de pessoas físicas integrando o sistema. “A instituição com mais chamadas em APIs é o Google Pay, que não é uma instituição financeira e nem detentora”, ressaltou Moraes.
A startup de Open Finance Klavi estruturou seu modelo de negócios na captação de informações de Open Finance para transformá-las em inteligência de dados. “Open finance é extremamente rico quando entra no tema de personalização”, atestou Bruno Chan, cofundador e CEO da Klavi.
Para além da personalização, Open Finance abre espaço para entender movimentos de mercado. Como exemplo, Chan citou que a startup conseguiu mapear mudanças de market share no mercado de delivery com a entrada da 99Food. “iFood sempre teve 90% de market share dentro dos apps de delivery e, há pouco tempo, a 99Food pegou 20% desse share. Sabemos disso porque a Klavi consegue aplicar inteligência em cima de dados Open Finance”, explicou.
Da mesma forma, a Klavi identificou uma queda no faturamento de empresas de 40% com a entrada em vigor da taxa das blusinhas. “Temos 7 milhões de pessoas que nos deram acesso ao extrato bancário e criamos indicadores que olham diversas variáveis para entender o nível de apostador e relacioná-lo à inadimplência. A informação, que vem 100% de Open Finance, ajuda as empresas a tomarem decisões melhores”, disse, ao dar mais um exemplo, desta vez no mundo das apostas online.
Gustavo Bresler, COO do Iniciador, que entrega infraestrutura de Open Finance, sobretudo, de iniciação de pagamentos, falou que a realização de transferências inteligentes têm sido um caso de uso ao proporcionar ao usuário conectar contas para fazer a movimentação entre elas.
Papel ativo do regulador no Open Finance
O Banco Central do Brasil tem participado ativamente de todo o ecossistema Open Finance. “O papel do BC de estar próximo e dialogando com as instituições para criar em conjunto tem sido fundamental”, acrescentou Luis Moraes. Essa proximidade, disse Matheus Rauber, assessor-sênior no Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central do Brasil, tem sido apontada como fator de sucesso para o funcionamento do Open Finance e o que diferencia o modelo brasileiro de outros.
“Vemos que, em outros países, o regulador não é tão presente e isso faz toda a diferença para que a implementação de Open Finance no Brasil seja um sucesso. Estamos próximos ao mercado. O BC se tornou muito mais aberto a conversar para entender o modelo de negócios e ver como conseguimos adaptar a regulamentação para aquilo, se entendemos que vai trazer benefícios”, explicou Rauber.
Dentro do cronograma de evolução de Open Finance, alguns produtos estão sendo desenvolvidos, como a jornada única para o cliente dar consentimento para pagamentos e saldo e a Jornada Sem Redirecionamento (JSR). Com base nas conversas com o mercado, o BC apresenta a primeira versão das evoluções, colhe opiniões e, então, emite o cronograma de implantação.
“O BC acompanha todo o processo de implantação para garantir que o cronograma esteja sendo cumprido, e também acompanhamos para checar a qualidade. Fazemos o acompanhamento do planejamento, da implementação e dos testes em produção; e, depois do go live, seguimos acompanhando para checar se o cliente está tendo qualidade”, frisou Rauber. O objetivo é entender os resultados dos casos de uso gerados a partir de Open Finance.
Depois do compartilhamento de dados e integração com Pix, o Open Finance mira a portabilidade de crédito. “O lançamento deve ocorrer no início do ano que vem e representa um passo importante para o Open Finance. E vamos seguir ampliando a agenda”, adiantou o assessor-sênior do Banco Central do Brasil.
Melhorias na parte de compartilhamento de dados e de iniciação também estão previstas, assim como permitir que o fluxo de informação ocorra de formas síncrona e assíncrona, o que, segundo Rauber, “destrava inovações para o ecossistema”.
Outro ponto importante é ter uma visão da pessoa jurídica, um segmento ainda pouco engajado ao Open Finance brasileiro. “Estamos tentando entender porque PJs não deram tantos consentimentos via Open Finance; estamos tentando destravar isso. Ter olhar para PJ é bem relevante”, frisou Rauber.
