Meio de pagamento instantâneo também é percebido como sinônimo de conta bancária entre grupos de menor renda
Com 858,3 milhões de chaves cadastradas até 30 de junho, o Pix confirma a cada dia sua popularidade. Essa preferência é ainda mais latente entre a população mais jovem. No ano passado, pessoas com até 29 anos usaram o meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central do Brasil com maior frequência mensal.
A adesão ao Pix vem aumentando mais em municípios com maior PIB per capita. Nessas regiões, em que a renda é mais alta, o valor médio por transação (R$240,31) também é superior. Esse valor passa para R$210,98 em cidades com renda alta, chega a R$171,10 em municípios com renda baixa e cai para R$142,22 em localidades em que a média de renda é considerada muito baixa.
A relação entre nível de renda e índices de alfabetização também provocam impactos na utilização do Pix. Quanto maior o índice de alfabetização da população, maior a taxa de adesão (57,10%) e o valor médio por transação do Pix (R$ 231,43). Porém, nas localidades em que a população apresenta um nível inferior de alfabetização, o Pix é utilizado mais frequentemente nas transações realizadas mensalmente.
Esses dados compõem a segunda edição da pesquisa “Geografia do Pix”, do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira (FGVcemif) da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), divulgada este ano. O objetivo do estudo é verificar a relação entre as características da população brasileira (idade, etnia e alfabetização) e o perfil econômico de municípios (PIB per capita, beneficiários do programa Bolsa Família e conectividade) com o ritmo de adoção do Pix.
Lauro Gonzalez, coordenador do FGVcemif e um dos autores do estudo, observa, por meio de nota, que: “Nos municípios mais ricos e alfabetizados, a adesão ao Pix é maior. Entretanto, nos mais pobres, ele é mais usado. Isso pode ocorrer porque usuários de maior renda têm à sua disposição uma diversidade maior de meios de pagamento além do Pix, como cartões, TED, etc, ou seja, a intensidade do uso do Pix tende a ser maior na baixa renda”.
Impactos de programas sociais e conectividade no Pix
O estudo apontou ainda evidências de que o Pix pode ser considerado um sinônimo de conta bancária para a população de menor renda. O coordenador do FGVcemif ressalta que municípios com mais beneficiários do programa Bolsa Família realizam uma quantidade maior de Pix (33 por mês), mas, na média, esse valor tende a ser menor, apesar de a taxa de adesão se equiparar à verificada em outras camadas da população, em torno de 53%.
Na análise dos pesquisadores, nos municípios em que é maior a presença de integrantes do Bolsa Família, as contas digitais são preferencialmente utilizadas como um meio para fazer Pix. “Os ‘bicos’ e a transferência de recursos para amigos e parentes são ‘gatilhos’ para uso do Pix”, informam os pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Outro fator de impacto é a relação entre adesão ao Pix e inclusão digital. Os pesquisadores utilizaram o Índice Brasileiro de Conectividade (IBC) para comparar o estágio de conectividade de cada município, relacionando dados do setor de telecomunicações, como níveis de cobertura de 4G/5G e fibra óptica. A partir dessa análise, os municípios foram divididos em quatro grupos levando em consideração a nota do IBC.
Nas localidades em que a taxa de conectividade é alta, a taxa de adesão ao Pix está próxima de 60%. A realidade muda consideravelmente nos municípios com menor nota no IBC. Nessas regiões, a taxa de adesão ao Pix cai para aproximadamente 49%.
Metodologia:
O estudo “Geografia do Pix” é desenvolvido por equipe do Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira (FGVcemif) da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP), composta por: Fabricio M. Trevisan, Lauro Gonzalez, Eduardo H. Diniz e Adrian Cernev.
Para alcançar os resultados apresentados, os pesquisadores coletaram dados nas bases: Estatísticas do Pix por Município referentes ao ano de 2024, disponíveis na Plataforma de Dados Abertos do Banco Central do Brasil, seleção de transações de pagamento feitas por pessoas físicas e cálculo da média mensal para cada município. Eles também cruzaram dados do Pix com dados do Censo Demográfico de 2022, disponibilizado pelo IBGE, e utilizaram a construção de indicadores de adesão, frequência de uso e valor transacionado para realizar comparações territoriais.
Os pesquisadores escolheram trabalhar com transações de pagamento realizadas apenas por pessoas físicas e elaboraram um cálculo da média mensal para cada município, estado e região. A partir desses dados, desenvolveram três indicadores:
1 – Adesão: quantidade de pessoas cadastradas no Pix com residência em determinada área geográfica e que utilizaram o Pix ao menos uma vez no mês, dividida pela população total dessa mesma área;
2 – Frequência de uso: quantidade de transações realizadas em determinada área geográfica, dividida pela quantidade de usuários dessa mesma área;
3 – Valor médio da transação: valor total transacionado em determinada área geográfica, dividido pelo total de transações realizadas nessa mesma área