Fintechs: a dependência de investimento de fundos caiu de 38%, em 2023, para 15% neste ano, segundo pesquisa Fintech Deep Dive, da PwC Brasil e ABFintechs.
As fintechs brasileiras estão mais cautelosas em relação ao crescimento e à captação de investimentos. A pesquisa Fintech Deep Dive 2024, realizada pela PwC Brasil e ABFintechs e que ouviu fintechs brasileiras entre os meses de julho e agosto de 2024, revela um aumento significativo no uso de capital próprio, após um período de maior dependência de fundos em 2023.
Enquanto, no ano passado, a dependência de investimento de fundos foi de 38%, neste ano, houve redução para 15%. A queda indica um ambiente de maior cautela, no qual as empresas preferem fortalecer a autonomia financeira e reduzir a exposição a investidores. Os recursos internos representam 69% das fontes de financiamento primário das operações financeiras.
O estudo aponta que, depois de um período de desaceleração no crescimento, as fintechs brasileiras passam por um período de consolidação e estabilidade econômica. De acordo com a Fintech Deep Dive 2024, 73% delas foram fundadas há menos de cinco anos, quase dois terços têm menos de 20 funcionários e 51% delas atingiram o ponto de equilíbrio financeiro com crescimento moderado entre 1% e 50%.
Diego Perez, presidente da ABFintechs, analisa que as fintechs brasileiras se adaptaram bem ao cenário recente de incerteza econômica e restrição de capital, ajustando suas operações para se tornarem mais enxutas e sustentáveis.
Segundo Perez, essa adaptação envolve redução de custos, priorização de gastos em áreas essenciais, como o desenvolvimento de produtos, e expansão menos agressiva. Com isso, as fintechs passaram a focar em conquistar e manter clientes de forma mais cautelosa, buscando criar portfólios sólidos que possam atrair novos negócios de maneira mais segura e sustentável.
“Foi uma resposta positiva e necessária às condições de mercado; e permite que as empresas prosperem em um ambiente de maior competição e menos disponibilidade de capital, preparadas para futuros desafios”, apontou Perez em nota.
Ao analisar os resultados, Willer Marcondes, sócio da Strategy& e líder de consultoria em serviços financeiros da PwC, observa que as empresas mais jovens estão ainda em um processo de amadurecimento. Nesse cenário, o crescimento não é apenas uma meta, mas uma jornada gerenciada para mitigar riscos das suas mais diversas origens.
Marcondes assinala que uma grande barreira enfrentada por essas empresas é a dificuldade de estabelecer uma marca forte e visível, o que é crucial para atrair tanto clientes quanto investidores.
Expectativas das fintechs
O sentimento revelado pela pesquisa é de otimismo para 2024, com mais empresas esperando um crescimento expressivo e uma redução nas expectativas de expansão modesta, refletindo maior confiança no mercado. Neste ano, 55% das empresas pesquisadas projetam aumentos acima dos 100%, frente aos 41% registrados na pesquisa de 2023.
Na linha do assinalado por Marcondes, a falta de exposição da marca é, cada vez mais, um obstáculo a ser transposto. Em 2023, este era um desafio para 26% dos participantes, mas chegou a 46% este ano.
A preocupação com a concorrência também aumentou: se, em 2023, tratava-se de algo limitado a poucos atores do setor (4%), em 2024, saltou para 32% dos entrevistados. A crise econômica/política, em contrapartida, já foi uma questão para 52% das fintechs em busca de investimento, mas este ano foi apontada como um impeditivo para apenas 25%.
Com relação à tecnologia, a pesquisa apontou que inteligência artificial e blockchain se destacam como soluções usadas para reforçar a competitividade e a eficiência no mercado.
A oferta de crédito e meios de pagamento continuam a liderar entre os setores de atuação. Ao mesmo tempo, o foco no mercado B2B ganha força e cresceu de 40% para 64% na edição deste ano, o que mostra uma tendência clara de concentração no atendimento a pessoas jurídicas, especialmente pequenos e médios empresários.